Gramática Evolutiva

A partir da evolução nos estudos de linguística o tradicionalismo da gramática foi sendo posto em xeque. A gramática depois de séculos está sendo repensada. Hoje, estamos no meio de uma grande batalha entre a lógica linguística e a normas da gramática tradicional.

E como fica o estudante secundarista diante desse impasse? O que deve ser estudado? As regras da gramática tradicional que mantêm a língua “pura”, ou o comportamento da variedades linguísticas do país?

A gramática tradicional está enraizada na sociedade de forma tal que não sairá do banco de aula tão cedo. Ainda haverá muitas batalhas nessa guerra e não se pode avaliar o tempo de imposição de uma sobre a outra ou de um equilíbrio entre elas.

Este livro pretende apresentar uma solução aos alunos que estão no meio dessa guerra e aproveitar o impasse para utilizar o que há de pertinente em ambas. Esta gramática tem a intenção de auxiliar o aluno no desenvolvimento de seus textos e aproveitar a lingüística como ferramenta para o entendimento das nomenclaturas e regras da gramática tradicional.

A pretensão, aqui, é estudar a gramática como se estivéssemos aprendendo a falar, utilizando o processo de cognição defendido pela gramática formalista. Vamos fazer uso do conhecimento que adquirimos naturalmente na fala para entendermos o sistema de comunicação

Em nossos estudos vamos utilizar recursos da gramática gerativa e da gramática descritiva sempre com duas finalidades que são; desenvolver habilidades de escrever e de inferir, e aprender as regras e definições da gramática tradicional.

Aprendi com meus sobrinhos e afilhados que não aprendemos uma coisa de cada vez, que aprendemos superficialmente todas as coisas do nosso universo (o universo de cada um) simultaneamente e vamos nos aprofundando no sentido que existe em cada elemento que nos cerca. A língua é um desses elementos. Aprendemos a língua apreendendo suas características, e vamos apreendendo cada vez mais as suas características para podermos dominá-la. Aprendido esse instrumento de apreensão do conhecimento, que é a língua, passamos a utilizá-lo na ordenação de nosso relacionamento com o mundo.

O desenvolvimento da humanidade aconteceu desse mesmo jeito, porque isso é uma característica do homem; observar. Quando estamos observando não percebemos de imediato todos os detalhes do que está sendo observado, mas a constante observação esclarece detalhes.

A gramática evolutiva pretende usar o que a semântica cognitiva chama de metáfora e metonímia, onde a cognição é um elemento nato que se expande sobre todo o universo do conhecimento.

A estrutura em que vai ser desenvolvido o ensino dessa gramática se ampara completamente nos conceitos da gramática formalista. Entendemos que essa seja uma boa maneira de abordar a gramática e esperamos desenvolver e motivar as habilidades intelectuais do indivíduo.

Partindo do ponto zero, ou seja, de uma língua fictícia, tentamos minimizar os preconceitos lingüísticos que existem sempre que se tenta unificar as variantes de uma língua com o intuito de padronizá-la. A unificação acaba sendo tendenciosa.

Acreditamos que a gramática tradicional deva ser revista, mas não eliminada. A evolução da gramática deve partir da revisão de seus conceitos, suas tradições e seus dogmas. Temos que ter um padrão que sirva de base para todas as variações regionais da nossa língua, respeitar as variações regionais, principalmente na fala, e manter a língua única e ao mesmo tempo várias em suas particularidades.

Aprender uma língua é aprender como se pensa nessa língua”.

(Roland Barthes)

Esse é o pensamento que norteia todo esse trabalho. A finalidade maior dessa gramática é fazer com que o aluno aprenda como funciona sua língua e que esse conhecimento contribua na organização de suas ideias.

A relação linguagem e pensamento é evidente, porém é perigoso afirmar(pelo menos até esse momento) que uma dependa da outra. De qualquer forma, na comunicação normal entre as pessoas a informação também é passada através da linguagem, seja ela verbal ou não, e o pensamento precisa da informação para se processar.

Não pretendemos com esse trabalho esclarecer como funciona a mente humana, nem quais são os algoritmos do pensamento, mas como funciona a língua, como ela envia e recebe informações de uma pessoa para outra e como é entregue essa informação à mente.

Steven Pinker em “O Instinto da Linguagem” afirma que o raciocínio e a linguagem se encontram em duas camadas diferentes. Isso pode parecer evidente pois em geral os alunos têm ideias e pensamentos, mas não sabem colocar no papel, não traduzir seus pensamentos em linguagens.

É estranho que no cotidiano o uso da matemática seja inferior ao uso da língua, e ainda assim seja mais fácil ao aluno fazer um transação comercial envolvendo cálculos matemáticos que escrever seus pensamentos de forma clara. Isso me faz pensar que o aprendizado da matemática consegue ter um uso prático, enquanto que o aprendizado da língua cai no esquecimento facilmente por não ter um direcionamento prático.

Como o aluno está em constante proximidade com a leitura (em geral lê-se muito mais do que se efetua um cálculo matemático), entender o funcionamento da língua traria à tona a observação constante da estrutura dos texto por ele lido.

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